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Tijolos para Abelhas: Quando o Concreto se Molda à Biodiversidade

por Fabiane Penz

Em 2020, Brighton & Hove, no Reino Unido, deu um passo pioneiro: tornou obrigatório que todos os novos edifícios com mais de cinco metros de altura incluam “bee bricks” – tijolos com cavidades que simulam ninhos naturais e oferecem abrigo para abelhas solitárias. Essas abelhas, que não produzem mel, representam a maioria das 270 espécies do país e têm papel crucial na polinização de hortas, jardins e de todo o ecossistema.

A ideia nasceu da percepção de que as cidades modernas, com suas superfícies lisas e construções densas, não oferecem espaços de refúgio para esses insetos. Assim, o tijolo, símbolo do urbano, ganhou nova função: unir arquitetura e biodiversidade.

Os Prós: Uma Cidade que Respira com a Natureza

  • Integração da biodiversidade ao urbano: cada parede se torna um aliado na regeneração ambiental.
  • Habitat para polinizadores: oferece abrigo às abelhas solitárias, tão necessárias para a manutenção da vida vegetal.
  • Educação ambiental: desperta curiosidade e consciência sobre a importância dos polinizadores.
  • Baixo custo: um tijolo adaptado pode ter impacto simbólico e real sem grandes custos adicionais.
  • Soma de soluções: quando combinado com jardins, telhados verdes e flora nativa, multiplica os benefícios.

Os Contras: Desafios e Controvérsias

  • Profundidade inadequada: muitos furos não são suficientemente longos para atender as necessidades das espécies locais.
  • Risco de parasitas e doenças: sem manutenção, podem se transformar em locais inseguros para as abelhas.
  • Efeito “greenwashing”: se usados isoladamente, correm o risco de ser apenas símbolo, sem impacto real.
  • Escala insuficiente: alguns tijolos por edifício não garantem populações sustentáveis.
  • Falta de estudos de longo prazo: ainda não há consenso científico sobre sua eficácia prática.

Casos e Inspirações

O conceito foi desenvolvido pela empresa Green&Blue, no Reino Unido, e já se espalhou pelo mundo, com mais de 21 mil unidades vendidas. Projetos urbanos, como em Cornwall e Dorset, e pesquisas acadêmicas em Falmouth University e Bristol estudam como esses tijolos são ocupados e sua real contribuição.

E o Futuro: Concreto que Conta Novas Histórias

O concreto, muitas vezes visto como frio e duro, pode ser reimaginado. Quando moldado com consciência, ele deixa de ser apenas barreira e se transforma em suporte de vida. O exemplo dos bee bricks nos inspira a pensar:

  • E se criássemos cobogós que funcionassem como abrigo para aves e insetos polinizadores?
  • E se pisos drenantes, além de combater alagamentos, também tivessem microcavidades para insetos?
  • E se elementos de fachada pudessem ser projetados para integrar flora nativa em nichos estrategicamente moldados?

A questão central não é apenas como construir, mas como coexistir. E o concreto, ao ser moldado em peças ecofriendly, pode deixar de ser apenas matéria inerte para se tornar matéria viva, parte da regeneração do nosso planeta.

O debate sobre os bee bricks nos mostra que soluções urbanas precisam ser profundamente estudadas, testadas e adaptadas às realidades locais. Mas também nos lembra que há potência em cada detalhe da arquitetura. Ao moldarmos o concreto para receber a vida, estamos, na verdade, moldando um futuro mais sustentável.